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Sharenting: quais os riscos do compartilhamento excessivo de informações de crianças na Internet?

Qual o problema de compartilhar fotos e vídeos de seus filhos em excesso? Explicaremos quais são os riscos reais dessa prática, bem como o que os pais devem fazer.

Texto escrito por Débora Quaiato

Foto de uma mãe com uma criança no colo tirando uma selfie.
O sharenting requer cuidados de pais e responsáveis. Ilustração por Pedro Bragança.

O uso da internet afetou de maneira significativa a forma como a comunicação, contato e até mesmo demonstrações de afeto passaram a se concretizar. Decerto, não foi diferente para as relações familiares: a geração atual é a primeira a crescer sob a presença constante da internet, fazendo com que a relação entre pais e filhos tenha que se adaptar a este cenário.


Nos dias de hoje, é muito comum que pais compartilhem com familiares e amigos fotos, vídeos e histórias sobre fases pelas quais seus filhos estão passando, principalmente enquanto crianças, se utilizando de redes sociais para divulgar momentos que antes ficavam apenas entre os presentes.


Contudo, mesmo sem perceber, muitos pais podem alcançar um extremo, compartilhando tantas informações sobre seus filhos que a prática passa a ser considerada perigosa. Para isto, há um termo específico: sharenting.

 

Sharenting é um termo que une as palavras “share” (do inglês, “compartilhar”) e “parenting” (do inglês, “paternidade”). É utilizado para designar o ato de pais que compartilham informações demais sobre seus filhos online.

 

Mesmo que a intenção seja apenas de compartilhar acontecimentos familiares ou demonstrar afeto e orgulho dos filhos, o excesso de informações compartilhadas têm potencial de gerar diversos problemas, principalmente por causa das imensas proporções de compartilhamento que uma mensagem online consegue alcançar.


O primeiro risco está na exposição de dados pessoais de crianças, como nome completo, números de identificação e endereço, que podem torná-las alvo de roubo de identidade. Normalmente, crianças são muito visadas para esta prática justamente pela facilidade de encontrar suas informações online e por serem jovens. Assim, até que atinjam uma idade em que realmente precisem utilizar seus dados, golpistas poderão se aproveitar dessas informações por muitos anos sem que o crime seja detectado.


Quando confrontados sobre essa realidade, é comum que cuidadores demonstrem que não conhecem mecanismos para a proteção de privacidade de seus filhos: muitos alegam que não vêem problemas com os conteúdos compartilhados na internet pois apenas seus amigos e familiares veriam as informações publicadas.


Contudo, isso não é necessariamente verdade. Quando as configurações do perfil de redes sociais dos pais são públicas, qualquer um poderá ter acesso às informações postadas, ainda que não sejam seguidores dos perfis dos pais, o que pode colocar a privacidade dos filhos em risco.


Mas os perigos não param por aí. Levados pelo momento de intimidade familiar, alguns pais sentem-se seguros para postar fotos ou vídeos de seus filhos com poucas roupas (como fotos com roupas de banho em praias e piscinas) ou até mesmo nuas, sem saber que essas fotos podem ser facilmente retiradas de contexto para serem compartilhadas em sites ilegais que divulgam pornografia infantil.


Neste sentido, sempre há de se pensar em quais serão as consequências e riscos para a imagem da criança, principalmente em relação aos seus rastros digitais (digital footprints).

 

Rastros digitais ou digital footprints são o conjunto de informações sobre uma pessoa que estão disponíveis na internet. Essas informações podem ser compostas por textos, áudios, fotos e vídeos, como aquelas compartilhadas por meio de redes sociais, blogs ou qualquer tipo de site na internet e podem ficar disponíveis por muitos anos.

 

Assim, é importante lembrar que as informações postadas no ambiente online poderão permanecer por anos ligadas ao nome de seus filhos. Portanto, deve-se sempre exercitar o pensamento a longo prazo, pesando as possíveis consequências do que está sendo publicado.


Também há de se pensar em como esse tipo de compartilhamento pode afetar o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Para além do estresse causado a eles por estarem constantemente expostos e monitorados, é possível que essa situação prejudique a formação de personalidade dos jovens. Isso porque, ao ter toda sua vida trazida a público, as crianças podem não desenvolver o entendimento de imposição de limites à sua própria privacidade, encontrando dificuldades para discernir quais informações suas podem ser públicas e quais devem ser sigilosas.


Além disso, com esse tipo de informação íntima à disposição, é possível que os pais prejudiquem o dia a dia dos filhos em relação ao convívio social. Sem que saibam, esses cuidadores das crianças e adolescentes podem estar fornecendo material para a prática de bullying e cyberbullying com seus filhos, que afeta gravemente o bem estar da criança e adolescente - além de ter potencial de causar danos permanentes à autoimagem, autoaceitação e autoconfiança.


Então, fica claro que os pais e cuidadores das crianças e adolescentes devem tomar precauções especiais quanto às informações que compartilham na internet. É importante que os adultos responsáveis pensem, em primeiro lugar, na segurança de seus filhos, ponderando sobre quais são os riscos envolvidos no compartilhamento daqueles dados e se há real necessidade de compartilhá-los.


Por exemplo: é aconselhável que dados de acesso à localização não sejam compartilhados, mantendo em sigilo informações como qual é a escola onde a criança estuda ou o endereço de sua residência; fotos de crianças nuas ou seminuas não devem ser compartilhadas, buscando a proteção de sua intimidade.


Além disso, também é indicado que os pais busquem incluir as crianças ao escolher o que será divulgado sobre elas, a fim de que elas possam aprender sobre a importância da privacidade e do consentimento no fornecimento de suas informações.


Outras medidas adotadas envolvem buscar conhecer os termos de uso e políticas de privacidade dos sites, páginas, redes sociais e aplicativos em que esse tipo de informação é compartilhada, entendendo qual é o melhor caminho para manter os dados das crianças privados de pessoas desconhecidas.


Enfim, deve-se sempre primar pelo bem estar das crianças e adolescentes tanto no momento presente, respeitando quando eles manifestarem que não querem que uma informação, foto ou vídeo seja compartilhado, quanto no futuro, considerando qual será a relação delas com a publicação daquelas informações quando estiverem mais velhas.


Créditos da imagem ao amigo Pedro Bragança (@pedrobragancatattoo).

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